Brock Lesnar diz o motivo de ter abandonado a WWE
Brock Lesnar trabalhou de 2000 até 2004 durante sua primeira passagem pela WWE. Após o mesmo deixar a empresa, surgiram muitos questionamentos sobre os motivos que levaram o “The Next Big Thing” a deixar à empresa. Em seu livro, Lesnar fala sobre a empresa e sobre as razões pelas quais ele abandonou o pro-wrestling.
Trabalho Árduo
“Quando as pessoas falam comigo sobre 2003, elas falam sobre minha luta contra Kurt Angle no WrestleMania; minhas lutas com John Cena e Big Show; a Iron Man Match que eu tive com Kurt no Smackdown; ou sobre eu ter derrotado Kurt pelo título e virado heel de novo.
Financeiramente, este também foi meu melhor ano na WWE. Me tornaram campeão tão rápido, que Vince McMahon nem sequer tinha me dado um novo contrato. Eu estava na estrada tanto tempo, que nós nunca tivemos tempo para discutir uma nova proposta. Mesmo eu já sendo duas vezes campeão, eu ainda estava sob o contrato de desenvolvimento que eu tinha assinado quando me recrutaram para OVW. Finalmente, nós nos encontramos para discutir um novo contrato, eu assinei um acordo majoritário com a WWE em 1 de julho de 2003.
Jim Ross continuava me falando que eu tinha entrado no “clube dos milionários” mais rápido que qualquer um na história do negócio. Isso pode ser verdade, tenho que acreditar na palavra dele, pois eu não estava prestando muita atenção em quanto os outros caras estavam ganhando. Todos eles mentiam de qualquer forma, então, quem realmente sabia?
Eu estava fazendo muito dinheiro, mas eu não conseguia me imaginar estando na estrada por outros quinze anos ou mais. Eu realmente gostava dos caras, mas eu não queria ser como eles. Não levei muito tempo pra descobrir isso.
É muito difícil até mesmo se imaginar tendo 35, 40 anos, Lutando em quatro lutas por semana em quatro cidades diferentes. Quando aqueles wrestlers chegavam em casa por um dia ou dois, eles estavam muito cansados pra fazer qualquer coisa. Os poucos que ainda tinham família tentavam dar aos seus amados um pequeno tempo de qualidade, mas quando eles chegavam em casa cansados, machucados e provavelmente de ressaca, eles acabavam por passar o primeiro dia apenas descansando. Então eles usavam o próximo dia para dar uma olhada no e-mail, nas contas da casa. Após ter uma ou duas noites nas próprias camas, tinham que estar no aeroporto na próxima manhã. Suas mulheres e crianças tinham que vê-los na TV. E daí? Não existe substituição para estar lá em pessoa. Não faz diferença onde o avião aterrissa, porque todas as cidades parecem iguais. Todos os quartos de hotel, carros alugados, ônibus, todos parecem iguais. Você está no piloto automático o tempo todo. Daí você vai pra casa, mas antes que saiba disso, já está de volta ao trabalho árduo, apertando a mão de todo mundo e sendo cuidadoso pra não estressar ninguém.
Vince implanta nos caras a noção de que eles tem que acreditar nos personagens deles, se eles querem que os fãs também acreditem. O que acontece durante os anos é que alguns dos caras entram tanto no personagem, que eles não sabem mais quando -e como- desligar isso. Eles se tornam os fãs número um de si mesmos. É assim que o Vince consegue controlar os caras depois de um tempo. Os caras farão qualquer coisa para deixar seu personagem “over”, e se tiverem sorte o bastante de chegar numa boa posição, eles irão fazer qualquer coisa para manter seus personagens nos holofotes. Se torna tudo sobre Vince. Vince puxa e controla todas as rédeas.
Vince pode sugerir qualquer coisa que ele quer, se ele disser “Isso vai ser bom para seu personagem”, tem um monte de caras prontos para fazer o que ele disser. Eles sofrem lavagem cerebral, e eles nem sequer sabem disso.
Levar uma cadeirada na cabeça? Ótima ideia. Receba uma body slam de dentro do ring para fora dele? Final incrível. Caia de cima de uma escada de 6 metros? Ganhará um grande pop. Acabar a luta com um Shooting Star Press? É, eu sei.
Mesmo estando lá por um curto tempo, Eu não estava imune a isso. Eu estava sendo lentamente sugado. O WWE Superstar Brock Lesnar aceitou fazer o Shooting Star Press, não Brock Lesnar, pai de família.
O problema é que quando você está no universo da WWE, fica muito difícil sair. Não dá pra ver dentro pelo lado de fora.Você não pode se olhar honestamente e dizer “Mas o que eu estou fazendo?”. Não existe isso de “normal”. Numa tentativa de manter minha sanidade, e evitar tornar-me como os outros, eu continuei falando a JR, Laurinaitis, Brisco (e qualquer outro que fosse escutar) que eu precisava de um tempo fora. Isso não funcionou, então eu finalmente cheguei no Vince e falei a mesma coisa. Vocês deviam ter visto a cara dele. Ele agiu como se eu tivesse cometido a grande traição. “Eu tenho todo este tempo de TV investido em você”… “A COMPANHIA está contando com você”… “Eu falei a todos que eu podia confiar em você. Você não pode me decepcionar.”
Eventualmente, eu consegui que Vince me desse um final de semana de folga aqui e ali, mas ele nunca iria me deixar fora da estrada por alguns meses. Não importava para ele se eu perdesse o título ou não, não tinha jeito dele me dar aquele tempo de folga.
Vince, claro, apostava bastante em mim. Eu era o campeão mais jovem de todos os tempos, e estava sendo construído para ser “The Next Big Thing”. Mas muito disso também foi Vince assegurando que eu não ficasse tempo o bastante fora do universo da WWE para vê-lo de outra forma.
Se acontecesse, eu provavelmente veria as coisas como elas eram, e não como Vince queria que eu as visse. É tudo questão de controle, e Vince não iria m deixar ter isso. Quanto mais eu trabalhava, mais eu gerava de dinheiro para o Vince por meio de venda de tickets, merchandising, DVDs, PPVs, etc. Se isso arruinasse minha vida e eu acabasse um zumbi como os outros, e daí. Em um dos raros fins de semana de folga que eu consegui, eu estava sentado em casa e tentando descobrir porque eu estava tão pra baixo.
Eu me sentia como um idoso, mesmo tento apenas 25 anos. As suspeitas óbvias eram as lesões que eu nunca tinha tempo para recuperar devidamente; um monte de garrafa vazia de Vodka; as centenas de remédios que eu estava engolindo apenas para conseguir terminar um tour; e o fato de que eu nunca estava em casa e estava perdendo minhas conexões com a família por causa disso. Eu havia de fato me tornado um professional wrestler.
Mas eu ainda pensava que se eu não tivesse que me preocupar com alguns dos problemas das viagens, poderia ser diferente. Filas na segurança dos aeroportos estavam ficando piores depois do 11 de setembro, e pra um monte de voos tinha que chegar duas horas antes. Quando você voa todo dia, e você está cansado e derrotado, as constantes filas e esperas parecem piores. E é ainda pior quando você não pode andar por um aeroporto sem ser reconhecido por centenas ou milhares de pessoas que querem fotos e autógrafos. Então eu fiz as contas e descobri que estava custando cerca de 175.000 dólares por ano pro Vince me fazer voar pelo país. Os tours internacionais eram uma história diferente, mas apenas as viagens domésticas estavam entre 150 e 175 mil dólares.
Então tive uma ideia. E se eu comprasse meu próprio avião e evitasse todas as filas, check-ins, tempo perdido esperando, andando pelo aeroporto, pegando minhas malas? E se eu pudesse simplesmente esperar no meu próprio avião, fazer meu trabalho e voltar no meu avião pra casa? Isso seria como dirigir pro trabalho para algumas pessoas. Sim, eu podia fazer isso.
Então eu fiz mais algumas contas e descobri que eu podia comprar meu próprio avião, ter um dos meus mais antigos amigos, Justin, pilotando para mim e ainda fazer Vince economizar um dinheiro. Vince só teria que pagar por manutenção e combustível. Um dia, durante uma gravação do SmackDown!, eu fui ao escritório do Vince com minhas ideias e contei o meu plano. Eu mostrei ao Vince como ele poderia economizar dinheiro e eu não talvez não precisaria pegar folgas tão longas. No dia seguinte, ele veio atrás de mim e disse “Vamos fazer isso!”
Em setembro de 2003, eu tinha perdido o título pro Kurt Angle, apenas para heel e derrotá-lo pelo título novamente. Eu não estava nem com um ano e meio completo, e já tinha sido WWE Champion pela terceira vez. Eu não era obcecado pelo título, mas estava feliz por ter um, pois assim eu estaria em mais eventos. Eu já estava fazendo milhões. Eu tinha meu próprio avião. A companhia estava contando comigo, e eu estava sendo lembrado disso todos os dias.
Daí venho Miami…
Financeiramente, este também foi meu melhor ano na WWE. Me tornaram campeão tão rápido, que Vince McMahon nem sequer tinha me dado um novo contrato. Eu estava na estrada tanto tempo, que nós nunca tivemos tempo para discutir uma nova proposta. Mesmo eu já sendo duas vezes campeão, eu ainda estava sob o contrato de desenvolvimento que eu tinha assinado quando me recrutaram para OVW. Finalmente, nós nos encontramos para discutir um novo contrato, eu assinei um acordo majoritário com a WWE em 1 de julho de 2003.
Jim Ross continuava me falando que eu tinha entrado no “clube dos milionários” mais rápido que qualquer um na história do negócio. Isso pode ser verdade, tenho que acreditar na palavra dele, pois eu não estava prestando muita atenção em quanto os outros caras estavam ganhando. Todos eles mentiam de qualquer forma, então, quem realmente sabia?
Eu estava fazendo muito dinheiro, mas eu não conseguia me imaginar estando na estrada por outros quinze anos ou mais. Eu realmente gostava dos caras, mas eu não queria ser como eles. Não levei muito tempo pra descobrir isso.
É muito difícil até mesmo se imaginar tendo 35, 40 anos, Lutando em quatro lutas por semana em quatro cidades diferentes. Quando aqueles wrestlers chegavam em casa por um dia ou dois, eles estavam muito cansados pra fazer qualquer coisa. Os poucos que ainda tinham família tentavam dar aos seus amados um pequeno tempo de qualidade, mas quando eles chegavam em casa cansados, machucados e provavelmente de ressaca, eles acabavam por passar o primeiro dia apenas descansando. Então eles usavam o próximo dia para dar uma olhada no e-mail, nas contas da casa. Após ter uma ou duas noites nas próprias camas, tinham que estar no aeroporto na próxima manhã. Suas mulheres e crianças tinham que vê-los na TV. E daí? Não existe substituição para estar lá em pessoa. Não faz diferença onde o avião aterrissa, porque todas as cidades parecem iguais. Todos os quartos de hotel, carros alugados, ônibus, todos parecem iguais. Você está no piloto automático o tempo todo. Daí você vai pra casa, mas antes que saiba disso, já está de volta ao trabalho árduo, apertando a mão de todo mundo e sendo cuidadoso pra não estressar ninguém.
Vince implanta nos caras a noção de que eles tem que acreditar nos personagens deles, se eles querem que os fãs também acreditem. O que acontece durante os anos é que alguns dos caras entram tanto no personagem, que eles não sabem mais quando -e como- desligar isso. Eles se tornam os fãs número um de si mesmos. É assim que o Vince consegue controlar os caras depois de um tempo. Os caras farão qualquer coisa para deixar seu personagem “over”, e se tiverem sorte o bastante de chegar numa boa posição, eles irão fazer qualquer coisa para manter seus personagens nos holofotes. Se torna tudo sobre Vince. Vince puxa e controla todas as rédeas.
Vince pode sugerir qualquer coisa que ele quer, se ele disser “Isso vai ser bom para seu personagem”, tem um monte de caras prontos para fazer o que ele disser. Eles sofrem lavagem cerebral, e eles nem sequer sabem disso.
Levar uma cadeirada na cabeça? Ótima ideia. Receba uma body slam de dentro do ring para fora dele? Final incrível. Caia de cima de uma escada de 6 metros? Ganhará um grande pop. Acabar a luta com um Shooting Star Press? É, eu sei.
Mesmo estando lá por um curto tempo, Eu não estava imune a isso. Eu estava sendo lentamente sugado. O WWE Superstar Brock Lesnar aceitou fazer o Shooting Star Press, não Brock Lesnar, pai de família.
O problema é que quando você está no universo da WWE, fica muito difícil sair. Não dá pra ver dentro pelo lado de fora.Você não pode se olhar honestamente e dizer “Mas o que eu estou fazendo?”. Não existe isso de “normal”. Numa tentativa de manter minha sanidade, e evitar tornar-me como os outros, eu continuei falando a JR, Laurinaitis, Brisco (e qualquer outro que fosse escutar) que eu precisava de um tempo fora. Isso não funcionou, então eu finalmente cheguei no Vince e falei a mesma coisa. Vocês deviam ter visto a cara dele. Ele agiu como se eu tivesse cometido a grande traição. “Eu tenho todo este tempo de TV investido em você”… “A COMPANHIA está contando com você”… “Eu falei a todos que eu podia confiar em você. Você não pode me decepcionar.”
Eventualmente, eu consegui que Vince me desse um final de semana de folga aqui e ali, mas ele nunca iria me deixar fora da estrada por alguns meses. Não importava para ele se eu perdesse o título ou não, não tinha jeito dele me dar aquele tempo de folga.
Vince, claro, apostava bastante em mim. Eu era o campeão mais jovem de todos os tempos, e estava sendo construído para ser “The Next Big Thing”. Mas muito disso também foi Vince assegurando que eu não ficasse tempo o bastante fora do universo da WWE para vê-lo de outra forma.
Se acontecesse, eu provavelmente veria as coisas como elas eram, e não como Vince queria que eu as visse. É tudo questão de controle, e Vince não iria m deixar ter isso. Quanto mais eu trabalhava, mais eu gerava de dinheiro para o Vince por meio de venda de tickets, merchandising, DVDs, PPVs, etc. Se isso arruinasse minha vida e eu acabasse um zumbi como os outros, e daí. Em um dos raros fins de semana de folga que eu consegui, eu estava sentado em casa e tentando descobrir porque eu estava tão pra baixo.
Eu me sentia como um idoso, mesmo tento apenas 25 anos. As suspeitas óbvias eram as lesões que eu nunca tinha tempo para recuperar devidamente; um monte de garrafa vazia de Vodka; as centenas de remédios que eu estava engolindo apenas para conseguir terminar um tour; e o fato de que eu nunca estava em casa e estava perdendo minhas conexões com a família por causa disso. Eu havia de fato me tornado um professional wrestler.
Mas eu ainda pensava que se eu não tivesse que me preocupar com alguns dos problemas das viagens, poderia ser diferente. Filas na segurança dos aeroportos estavam ficando piores depois do 11 de setembro, e pra um monte de voos tinha que chegar duas horas antes. Quando você voa todo dia, e você está cansado e derrotado, as constantes filas e esperas parecem piores. E é ainda pior quando você não pode andar por um aeroporto sem ser reconhecido por centenas ou milhares de pessoas que querem fotos e autógrafos. Então eu fiz as contas e descobri que estava custando cerca de 175.000 dólares por ano pro Vince me fazer voar pelo país. Os tours internacionais eram uma história diferente, mas apenas as viagens domésticas estavam entre 150 e 175 mil dólares.
Então tive uma ideia. E se eu comprasse meu próprio avião e evitasse todas as filas, check-ins, tempo perdido esperando, andando pelo aeroporto, pegando minhas malas? E se eu pudesse simplesmente esperar no meu próprio avião, fazer meu trabalho e voltar no meu avião pra casa? Isso seria como dirigir pro trabalho para algumas pessoas. Sim, eu podia fazer isso.
Então eu fiz mais algumas contas e descobri que eu podia comprar meu próprio avião, ter um dos meus mais antigos amigos, Justin, pilotando para mim e ainda fazer Vince economizar um dinheiro. Vince só teria que pagar por manutenção e combustível. Um dia, durante uma gravação do SmackDown!, eu fui ao escritório do Vince com minhas ideias e contei o meu plano. Eu mostrei ao Vince como ele poderia economizar dinheiro e eu não talvez não precisaria pegar folgas tão longas. No dia seguinte, ele veio atrás de mim e disse “Vamos fazer isso!”
Em setembro de 2003, eu tinha perdido o título pro Kurt Angle, apenas para heel e derrotá-lo pelo título novamente. Eu não estava nem com um ano e meio completo, e já tinha sido WWE Champion pela terceira vez. Eu não era obcecado pelo título, mas estava feliz por ter um, pois assim eu estaria em mais eventos. Eu já estava fazendo milhões. Eu tinha meu próprio avião. A companhia estava contando comigo, e eu estava sendo lembrado disso todos os dias.
Daí venho Miami…
Brock vs. Rock in Miami
Eu estava muito animado no dia que eu ouvi que iria lutar contra Dwayne “The Rock” Johnson em Miami para nossa segunda “one-on-one match”. Terminou sendo um dos dias mais importantes da minha carreira no pro-wrestling, pois aquela luta em Miami foi bem importante na minha decisão de deixar a WWE. Antes daquele primeiro Summerslam, a companhia me levou para Miami para que eu e Dwayne pudéssemos discutir os pontos altos e o final da nossa luta. Era o primeiro aniversário da filha de Dwayne, e ele me convidou para ficar em sua casa, com ele e sua família.
O pai de Dwayne foi um wrestler chamado Rocky Johnson, então ele sabia como jogar o jogo do pro wrestling tão bem como qualquer outro. Assim como Curt Henning, Dwayne nasceu no negócio. Esses wrestlers de segunda-geração, e até mesmo terceira, como Randy Orton entendem o negócio bem mais do que caras que chegam lá por outros caminhos da vida, porque eles cresceram ao redor disso. Dwayne, Kurt e Randy viram sobre o que é o negócio, e os sacrifícios que uma família tem que fazer. Eles também aprenderam a psicologia por trás das cenas pois eles estavam expostos a isso desde o primeiro dia. Isto é uma vantagem tremenda para eles, porque no caso deles, está no sangue.
Eu não havia nascido no negócio, então diferente do Dwayne e dos outros, eu tive que aprender um monte de coisas do jeito difícil. Se alguém da companhia me chamasse e dissesse “Hey Brock, você se importa de perder pro The Rock nesse fim de semana em Miami?” isso não teria sido grande coisa pra mim. Eu devia isso a ele. Eu gostei do Dwayne, e aprendi um monte dele naquela semana antes de ele me deixar “over” pelo championship. Mas o jeito que as coisas foram feitas em Miami realmente abriram meus olhos para o negócio do wrestling, e a noite da minha grande luta com Dwayne é outra que eu jamais esquecerei.
Eu apareci na arena e me encontrei com Jack Lanza, o road agent no comando do show. Jack era um cara de Minnesota e me tomou por baixo de sua asa quando eu passei para o roster principal da WWE. Como o road agent, Jack iria pegar os finais das lutas pelo telefone ou via e-mail do Vince, J.R. ou Laurinaitis. Então ele iria produzir o evento e reportar aos chefes como tinha sido o show, quem teve boa performance e quem não teve.
Eu estive na estrada com o Jack algumas vezes, logo esse dia não deveria ser diferente de qualquer outro. Eu imaginei que, na hora certa, todos nós sentaríamos e Jack nos diria como Vince queria que a luta terminasse. Não tinha nenhuma razão para acreditar porque esse show seria diferente dos outros, fora o fato de que eu iria trabalhar com Dwayne, e isso era especial para nós dois. Então eu me dei conta “Alguma coisa aqui não está certa”.
O show já havia começado e o Jack ainda não nos tinha dado o final. Dwayne e eu começamos a falar sobre nossa luta, e eu continuava pensando “Ok, mas como vai ser o final?” Já faltava mais ou menos uma hora e meia antes de nós supostamente subirmos ao ring para o main event da noite, e Dwayne disse pra mim “… E é aí que eu mando uma Rock Bottom, um … dois… três!”
Na verdade eu ri, porque eu pensei que Dwayne estava me zoando. Eu era o WWE Champiomn. O “Golden Boy”. Era o meu tempo de estar no topo. Eu deveria vencer. E ali estava o Rock, que deveria saber melhor, dizendo que ele iria pinar o WWE Champion com a Rock Bottom. Aquilo foi engraçado. Dwayne estava com aquela aparência nervosa e ele não estava rindo comigo. Ele apenas jogou toda culpa no Vince e disse “Eu não acredito que o Vince não te contou… Ele não te ligou sobre isso?” Dwayne fez parecer como se ele pensasse que eu sabia que ele iria me vencer, e que estava chocado por eu não saber. “Eu te falei sobre coisas assim,” disse o Dwayne. “Um monte de coisas ruins caem por terra, você tem que se manter acima do Vince sobre qualquer coisa.”
Eu lembro que na semana que eu fiquei com o Dwayne, ele estava no telefone com o Vince constantemente. Este era o tempo certo para cuidar dos negócios. Dwayne tinha a mão sobre qualquer coisa que fizessem com personagem dele. Ele era uma estrela grande o bastante que ele tinha alguma moral sobre como seu personagem seria usado, e como Vince deveria promover ele. Até mesmo naquele tempo, Dwayne iria me dizer “Agora que você está no topo, precisa se manter no topo de tudo, o tempo todo.”
Então eu fui ao Lanza e disse “Jack, me diz o que está havendo aqui… Eu sou o WWE Champion e vou perder hoje a noite? Por quê ninguém me disse isso?” Jack simplesmente respondeu “Bem, é uma ‘non-title’ match”. O que isso deveria significar? Eu nunca iria saber que meu título não estava em jogo ali aquela noite. Eu nunca soube que deveria perder pro Rock. “É Miami”, disse o Jack. “Ninguém ficará sabendo”.
Eu lembro de escutar Jack falando isso como se tivesse acontecido ontem. Eu não estava bravo porque iria perder. Não era essa a questão. O que me incomodava é que eu era o último cara a saber, quando eu deveria ter sido o primeiro.
Ninguém teve os culhões para para me dizer a verdade, até dar a hora de entrar no ring. Apenas pela cara do Dwayne e pela voz do Jack, eu sabia que eles estavam em algo que eu não estava. Era óbvio para mim que Vince, Dwayne e Jack estavam todos envolvidos, e eu não tinha me ligado na situação até o último minuto. Aquela noite mudou minha atitude sobre a WWE, porque foi aí que eu comecei a achar Vince um mentiroso manipulador, e que eu estava sendo sacaneado. Eu achei uma decisão estúpida ter o WWE Champion perdendo uma “non-title match”, mas era algo que eu tinha que aceitar. Como alguém que luta de verdade, não faz sentido pra mim o campeão perder… E ainda ser campeão. Se alguém pode vencer o campeão, então ele não merece o título. É simples assim.
Quem quer ver isso? Pessoas pagam para ver o campeão porque ele é o campeão, e a posição dele como número um está em jogo Eu não gostei disso. Eu havia enchido arenas e vendido pay-per-views e ninguém nem sequer me disse que Dwayne queria a revanche dele? Ninguém tinha coragem para apenas dizer “Brock, vai ser desse jeito”? Vince não pode me dizer o ângulo, a história, e porque faz sentido eu me deitar pro Rock em uma “non-title match”? Ele não acha que eu mereça saber? Eu sou o maldito “psoter boy” da empresa, e eu sou o único que não sabe o que está acontecendo?
Mesmo sabendo que um dia eu iria ter que perder pro The Rock, eu continuava pensando que o Vince tinha realmente me sacaneado, e que tinha um monte de coisas por trás disso me pondo no escuro do que apenas Dwayne querendo a revanche dele depois de um ano e meio. Será que eu tinha feito algo pra deixar o Vince bravo? Será que ele tinha mostrado que podia me por no meu lugar? Alguma coisa estava acontecendo.
Eu serei o primeiro a admitir que eu sou viciado em controle. Quando se fala de negócios, eu quero saber o que está acontecendo, quando, onde e porquê. É o meu estilo. Se eu tenho que perder pelo bem da companhia, eu irei, mas isso tem que ser nos meus termos. Eu pensei que eu tinha uma boa relação com o Vince, mas eu estava errado.
Quando se trata de negócios com a WWE, eu pensei que a única pessoa que eu podia confiar era o Vicne. Quando eu comecei nós demos aquele aperto de mão, e eu pus meu futuro nas mãos dele. Ele dirigia a empresa. Ele controlava tudo. Eu sabia que se eu não pudesse contar com ele pra me falar tudo certo, eu estava ferrado. Eu podia jogar o jogo com todo mundo do roster ou do escritório, mas eu não podia jogar jogos com o dono da companhia. Essa era uma luta que eu iria perder sempre, porque ELE assina os cheques. ELE faz todas as regras.
Se eu sou o “top guy” do Vince… o cara em qual ele está se apoiando… o main event dele… por quê ele iria mentir pra mim? Por quê ele iria jogar esse tipo de jogo comigo, em Miami, sem razão alguma? Apenas pra mexer com a minha cabeça? Fazer por fazer? Para o Vince, isso pode ter sido apenas mais um dia de negócios do wrestling, mas pra mim era muito mais que isso. Aquele foi o primeiro dia de uma cadeia de eventos que levaram a minha saída da WWE. As rodas ainda estavam rodando na minha cabeça sobre eu ter sido sacaneado em Miami, quando Vince me disse que ele queria que eu perdesse o WWE Title para Eddie Guerrero. Claro, Vince pôs sua própria torção nisso: “Goldberg irá interferir, dar a vitória ao Eddie e isso levará a essa grande luta na Wrestlemania entre vocês dois. Lesnar vs. Goldberg é tão grande sozinha, que vocês não precisam do WWE Title envolvido.”
Claro, Vince continuou me dizendo como seria bom para meu personagem perder o título para Eddie, e depois enfrentar Goldberg. “Você pode vencer Goldberg em 30 segundos. Ele está indo embora, eu não ligo. Nós podemos envolver o Austin e esta será a maior luta no card. WrestleMania 20. Madison Square Garden. Brock Lesnar vs. Bill Goldberg, e Stone Cold Steve Austin será o special guest referee. É grana das grandes, puro dinheiro.”
Eu sabia sobre o que era isso. Vince estava me vendendo forte pro WrestleMania porque ele queria dar o título para Eddie Guerrero. Vince continuava me dizendo como a audiência latina estava crescendo, e este era o movimento certo para os negócios. Mas depois do que aconteceu em Miami, nossa relação tinha descido a ladeira. Eu nunca mais acreditei em outra palavra que tivesse saído da boca do Vince. Eu não tinha mais um pingo de fé na Federação. Mas Vince não foi o único que me sacaneou.
O pai de Dwayne foi um wrestler chamado Rocky Johnson, então ele sabia como jogar o jogo do pro wrestling tão bem como qualquer outro. Assim como Curt Henning, Dwayne nasceu no negócio. Esses wrestlers de segunda-geração, e até mesmo terceira, como Randy Orton entendem o negócio bem mais do que caras que chegam lá por outros caminhos da vida, porque eles cresceram ao redor disso. Dwayne, Kurt e Randy viram sobre o que é o negócio, e os sacrifícios que uma família tem que fazer. Eles também aprenderam a psicologia por trás das cenas pois eles estavam expostos a isso desde o primeiro dia. Isto é uma vantagem tremenda para eles, porque no caso deles, está no sangue.
Eu não havia nascido no negócio, então diferente do Dwayne e dos outros, eu tive que aprender um monte de coisas do jeito difícil. Se alguém da companhia me chamasse e dissesse “Hey Brock, você se importa de perder pro The Rock nesse fim de semana em Miami?” isso não teria sido grande coisa pra mim. Eu devia isso a ele. Eu gostei do Dwayne, e aprendi um monte dele naquela semana antes de ele me deixar “over” pelo championship. Mas o jeito que as coisas foram feitas em Miami realmente abriram meus olhos para o negócio do wrestling, e a noite da minha grande luta com Dwayne é outra que eu jamais esquecerei.
Eu apareci na arena e me encontrei com Jack Lanza, o road agent no comando do show. Jack era um cara de Minnesota e me tomou por baixo de sua asa quando eu passei para o roster principal da WWE. Como o road agent, Jack iria pegar os finais das lutas pelo telefone ou via e-mail do Vince, J.R. ou Laurinaitis. Então ele iria produzir o evento e reportar aos chefes como tinha sido o show, quem teve boa performance e quem não teve.
Eu estive na estrada com o Jack algumas vezes, logo esse dia não deveria ser diferente de qualquer outro. Eu imaginei que, na hora certa, todos nós sentaríamos e Jack nos diria como Vince queria que a luta terminasse. Não tinha nenhuma razão para acreditar porque esse show seria diferente dos outros, fora o fato de que eu iria trabalhar com Dwayne, e isso era especial para nós dois. Então eu me dei conta “Alguma coisa aqui não está certa”.
O show já havia começado e o Jack ainda não nos tinha dado o final. Dwayne e eu começamos a falar sobre nossa luta, e eu continuava pensando “Ok, mas como vai ser o final?” Já faltava mais ou menos uma hora e meia antes de nós supostamente subirmos ao ring para o main event da noite, e Dwayne disse pra mim “… E é aí que eu mando uma Rock Bottom, um … dois… três!”
Na verdade eu ri, porque eu pensei que Dwayne estava me zoando. Eu era o WWE Champiomn. O “Golden Boy”. Era o meu tempo de estar no topo. Eu deveria vencer. E ali estava o Rock, que deveria saber melhor, dizendo que ele iria pinar o WWE Champion com a Rock Bottom. Aquilo foi engraçado. Dwayne estava com aquela aparência nervosa e ele não estava rindo comigo. Ele apenas jogou toda culpa no Vince e disse “Eu não acredito que o Vince não te contou… Ele não te ligou sobre isso?” Dwayne fez parecer como se ele pensasse que eu sabia que ele iria me vencer, e que estava chocado por eu não saber. “Eu te falei sobre coisas assim,” disse o Dwayne. “Um monte de coisas ruins caem por terra, você tem que se manter acima do Vince sobre qualquer coisa.”
Eu lembro que na semana que eu fiquei com o Dwayne, ele estava no telefone com o Vince constantemente. Este era o tempo certo para cuidar dos negócios. Dwayne tinha a mão sobre qualquer coisa que fizessem com personagem dele. Ele era uma estrela grande o bastante que ele tinha alguma moral sobre como seu personagem seria usado, e como Vince deveria promover ele. Até mesmo naquele tempo, Dwayne iria me dizer “Agora que você está no topo, precisa se manter no topo de tudo, o tempo todo.”
Então eu fui ao Lanza e disse “Jack, me diz o que está havendo aqui… Eu sou o WWE Champion e vou perder hoje a noite? Por quê ninguém me disse isso?” Jack simplesmente respondeu “Bem, é uma ‘non-title’ match”. O que isso deveria significar? Eu nunca iria saber que meu título não estava em jogo ali aquela noite. Eu nunca soube que deveria perder pro Rock. “É Miami”, disse o Jack. “Ninguém ficará sabendo”.
Eu lembro de escutar Jack falando isso como se tivesse acontecido ontem. Eu não estava bravo porque iria perder. Não era essa a questão. O que me incomodava é que eu era o último cara a saber, quando eu deveria ter sido o primeiro.
Ninguém teve os culhões para para me dizer a verdade, até dar a hora de entrar no ring. Apenas pela cara do Dwayne e pela voz do Jack, eu sabia que eles estavam em algo que eu não estava. Era óbvio para mim que Vince, Dwayne e Jack estavam todos envolvidos, e eu não tinha me ligado na situação até o último minuto. Aquela noite mudou minha atitude sobre a WWE, porque foi aí que eu comecei a achar Vince um mentiroso manipulador, e que eu estava sendo sacaneado. Eu achei uma decisão estúpida ter o WWE Champion perdendo uma “non-title match”, mas era algo que eu tinha que aceitar. Como alguém que luta de verdade, não faz sentido pra mim o campeão perder… E ainda ser campeão. Se alguém pode vencer o campeão, então ele não merece o título. É simples assim.
Quem quer ver isso? Pessoas pagam para ver o campeão porque ele é o campeão, e a posição dele como número um está em jogo Eu não gostei disso. Eu havia enchido arenas e vendido pay-per-views e ninguém nem sequer me disse que Dwayne queria a revanche dele? Ninguém tinha coragem para apenas dizer “Brock, vai ser desse jeito”? Vince não pode me dizer o ângulo, a história, e porque faz sentido eu me deitar pro Rock em uma “non-title match”? Ele não acha que eu mereça saber? Eu sou o maldito “psoter boy” da empresa, e eu sou o único que não sabe o que está acontecendo?
Mesmo sabendo que um dia eu iria ter que perder pro The Rock, eu continuava pensando que o Vince tinha realmente me sacaneado, e que tinha um monte de coisas por trás disso me pondo no escuro do que apenas Dwayne querendo a revanche dele depois de um ano e meio. Será que eu tinha feito algo pra deixar o Vince bravo? Será que ele tinha mostrado que podia me por no meu lugar? Alguma coisa estava acontecendo.
Eu serei o primeiro a admitir que eu sou viciado em controle. Quando se fala de negócios, eu quero saber o que está acontecendo, quando, onde e porquê. É o meu estilo. Se eu tenho que perder pelo bem da companhia, eu irei, mas isso tem que ser nos meus termos. Eu pensei que eu tinha uma boa relação com o Vince, mas eu estava errado.
Quando se trata de negócios com a WWE, eu pensei que a única pessoa que eu podia confiar era o Vicne. Quando eu comecei nós demos aquele aperto de mão, e eu pus meu futuro nas mãos dele. Ele dirigia a empresa. Ele controlava tudo. Eu sabia que se eu não pudesse contar com ele pra me falar tudo certo, eu estava ferrado. Eu podia jogar o jogo com todo mundo do roster ou do escritório, mas eu não podia jogar jogos com o dono da companhia. Essa era uma luta que eu iria perder sempre, porque ELE assina os cheques. ELE faz todas as regras.
Se eu sou o “top guy” do Vince… o cara em qual ele está se apoiando… o main event dele… por quê ele iria mentir pra mim? Por quê ele iria jogar esse tipo de jogo comigo, em Miami, sem razão alguma? Apenas pra mexer com a minha cabeça? Fazer por fazer? Para o Vince, isso pode ter sido apenas mais um dia de negócios do wrestling, mas pra mim era muito mais que isso. Aquele foi o primeiro dia de uma cadeia de eventos que levaram a minha saída da WWE. As rodas ainda estavam rodando na minha cabeça sobre eu ter sido sacaneado em Miami, quando Vince me disse que ele queria que eu perdesse o WWE Title para Eddie Guerrero. Claro, Vince pôs sua própria torção nisso: “Goldberg irá interferir, dar a vitória ao Eddie e isso levará a essa grande luta na Wrestlemania entre vocês dois. Lesnar vs. Goldberg é tão grande sozinha, que vocês não precisam do WWE Title envolvido.”
Claro, Vince continuou me dizendo como seria bom para meu personagem perder o título para Eddie, e depois enfrentar Goldberg. “Você pode vencer Goldberg em 30 segundos. Ele está indo embora, eu não ligo. Nós podemos envolver o Austin e esta será a maior luta no card. WrestleMania 20. Madison Square Garden. Brock Lesnar vs. Bill Goldberg, e Stone Cold Steve Austin será o special guest referee. É grana das grandes, puro dinheiro.”
Eu sabia sobre o que era isso. Vince estava me vendendo forte pro WrestleMania porque ele queria dar o título para Eddie Guerrero. Vince continuava me dizendo como a audiência latina estava crescendo, e este era o movimento certo para os negócios. Mas depois do que aconteceu em Miami, nossa relação tinha descido a ladeira. Eu nunca mais acreditei em outra palavra que tivesse saído da boca do Vince. Eu não tinha mais um pingo de fé na Federação. Mas Vince não foi o único que me sacaneou.
Deixando a WWE
Eu estava ficando com cada vez mais raiva. Eu não podia tirar uma folga. Meu corpo estava machucado. Eu estava passando por um monte de problemas pessoais. Eu estava irritado sobre como as coisas tinham acontecido em Miami, e eu certamente não estava feliz por ter sido substituído por Eddie Guerrero como WWE Champion. Eu lembro como cada degrau que eu subia na escada estava me valendo mais dinheiro, e agora eu estava me vendo descer aquela escada de volta?
Eu não converso com muitos da companhia hoje em dia, e também foi assim durante minha passagem na WWE. Eu não gostava o quão desleais eram a maioria dos caras, mas eu pensei que existiam umas poucas pessoas com quem eu podia contar. Kurt Angle era para ser uma dessas pessoas. Então alguma coisa aconteceu e me fez duvidar.
Eu tive muitas conversas com o Kurt, mas eu logo descobri que aquelas conversas não permaneciam apenas entre a gente. É triste que eu tenha aprendido esta lição do jeito difícil. Eu sabia que a qualquer momento qualquer um na locker room podia me trair se pudesse se safar com isso. Todos eles querem um lugar melhor no card. Todo mundo quer fazer mais dinheiro, ter as melhores lutas e ganhar os maiores pushs. Não é segredo que quando se trata do negócio do pro-wrestling, você tem que vigiar suas costas o tempo inteiro. Todo mundo é posto numa posição para trair o cara que está na frente. Algumas vezes, eles querem ver se você estpa disposto a ser agressivo, porque Vince gosta de ver seus top guys lutando pela posição número um.
Kurt e eu devíamos ter uma ligação. Nós dois estivemos no topo no wrestling amador. Nós dois eramos atletas reais, verdadeiros competidores. Mas ao mesmo tempo, Kurt queria minha posição assim como todos na locker room. Ele apenas queria o que eu tinha. Vince nunca olhou para Kurt do jeito que olhava para mim. Kurt tinha a medalha olímpica, mas Vince e Triple H não viam um campeão olímpico. Eles apenas viam um cara de 1,80 m vestindo collant. Nas cabeças deles, os fãs pagam para ver os caras enormes lutarem. Kurt nunca seria “maior que a vida”. Não importava quão bom ele era no ring, Kurt apenas não era alto ou grande o bastante para ser o top guy do Vince McMahon por tempo algum.
Acreditando que eu podia confiar no Kurt, eu disse a ele que eu estava pensando em sair do wrestling. Eu não falei a mais ninguém, e ele disse que também não o faria. Mas logo depois de eu ter confiado nele, eu me convenci de que Vince sabia que eu planejava sair. Será que o Kurt havia me traído?
Naquele tempo, Kurt e eu estávamos viajando juntos, e eu já estava pensando que algo estava errado só pelo jeito que ele estava agindo. Então, um dia, eu fui devolver o carro alugado, e vi o celular do Kurt no acento ao lado. Eu o abri, e a última chamada tinha sido para Vince McMahon. Aquilo provava algo? talvez sim, talvez não. Mas daquele dia em diante, eu mantive minha boca fechada, e não disse nada ao Kurt que eu não queria que alguém soubesse.
Eu perdi o WWE Title para Eddie Guerrero no Cow Palace em Sam Francisco. Toda a storyline se centrava no fato de Goldberg entrar no ring e me dar um spear. Eu não acreditei que Vince queria o título com Eddie Guerrero porque ele pensava que ele atrairia tanto dinheiro quanto eu, ou que Vince tinha essa visão sobre mim vs. Goldberg na Wrestlemania. Eu suspeitei que Vince tomou essa decisão de me tirar o título porque Kurt o havia dito que eu estava pensando em sair.
Eu comecei em me concentrar em apenas ir ao WrestleMania e por minhas mãos naquele bom pagamento antes de ir embora. Vocês sabem que isso nunca aconteceu desse jeito, porque enquanto eu estava no modo de sobrevivência, a WWE fez outro movimento grotesco pra cima de mim.
Nós estávamos marcados para ir à África do Sul, e é uma viagem desgastante. É no outro lado do mundo. A comida é ruim. É uma viagem longa pra chegar, e uma viagem longa pra voltar. Não havia nada de bom nisso exceto que você fazia um bom dinheiro se estivesse no main event.
Eu estava marcado para lutar naqueles main events contra Kurt e Eddie em Triple Threat matches em todos os quatro shows da África do Sul, mas antes de nós deixarmos os Estados Unidos, a WWE mudou o main event para apenas Kurt vs Eddie. Me disseram que os dois precisavam ajustar-se para a luta do WrestleMania, o que significava que eu iria lutar contra Bob Holly, que eu tinha vencido em quantro minutos no Royal Rumble.
Eu gosto de Bob. Ele é um cara legal e ele leva o negócio a sério, mas eu não queria trabalhar com ele. Nada contra ele, mas lutar contra Bob Holly não me valeu nada naquele tempo. Nós fizemos nossa luta no Royal Rumble e aquele deveria ser o fim da nossa storyline. Mas agora eu tinha que viajar para África do Sul pra trabalhar contra o Bob Holly? Alguém pode me dizer porquê? Eu sabia que ninguém iria pagar pra ver aquela luta. Se eu não fosse realmente necessário, me dessem uma folga. Eu realmente precisava da folga naquele tempo, mas John Laurinaitis me disse o quanto precisava de mim no card. CONTRA O BOB HOLLY? Tá zoando com a minha cara?
Eu sabia a verdade. Eu estava apenas tapando buracos no card, Não era onde eu queria estar. Isso nunca foi o que eu queria ser. Até mesmo hoje, neste exato momento, ainda estou bravo comigo por ter ido pra África do Sul.
A viagem foi péssima, o dinheiro não valeu a pena naquele tempo, e pior, eu bebi durante toda a viagem de volta. Eu passei 54 horas miseráveis em uma avião naquela viagem. Quando aterrissamos no aeroporto JFK em New York, nós fomos enfiados como gado num ônibus para o aeroporto LaGuardia, onde nós iríamos pegar outro avião para Atlanta. Assim que chegássemos a Atlanta, nós deveríamos ir para Savannah. Assim que chegássemos, voltaríamos ao mesmo monótono trabalho árduo de sempre. Pegar a bagagem. Alugar um carro. Encontrar um ginásio. Ver algo pra comer. Torcer pra dormir um pouco, porque você tem que estar pronto na próxima manhã para passar seu dia inteiro gravando pra TV.
Foi aí que eu enlouqueci de vez. Nathan Jones tinha endoidado um mês atrás, e ele estava apenas alguns minutos de lutar em sua cidade natal na Austrália. Mas o estranho é que, quando o Nathan caiu fora, eu continuei pensando que tudo que ele dizia fazia sentido. “Nada vale a pena por esse stress”… “É tudo um jogo, mas aí eles te dizem quão a sério eles levam o próprio negócio”… “Eu apenas não quero mais estar aqui”. Então aterrissamos no JFK e tomamos o ônibus para LaGuardia, e foi aí que eu comecei a beber de novo. Eu estava sentado no bar do aeroporto e decidi ali mesmo que eu não entraria em outro avião para Savannah. Pra quê? Pra eu poder lutar contra o Bob Holly de novo? Eu não tinha ideia do que eles tinham pra mim nas gravações, e eu não ligava. Eu havia tido o bastante. Já era. Fim da linha. Eu ia pra casa.
Me levantei do bar, fui até o caixa, e comprei a minha própria passagem para Minneapolis. Quando eu entrei no avião para casa, eu pedi outro drink para celebrar, mas eles me negaram. Eu não estava feliz por terem me recusado álcool, e eu quase causei um barraco que podia ter ficado bem feio. Não foi muito esperto da minha parte, mas quando sua cabeça está cheia de porcaria…
Para minha sorte, eu não fui chutado do avião e consegui chegar em casa. Aqueles pobres empregados do avião. Eles podiam ter me ferrado, mas não o fizeram. Eu acho que essa é minha chance para dizer “me perdoem” de uma forma pública para eles, e obrigado por não terem feito um diz ruim ficar ainda pior.
Eu tinha em minha cabeça que não iria para as gravações em Savannah. Eu ia dar uma de Steve Austin. Eu estava em casa, e não ia embora de novo. Não pra estrada, sem chance disso acontecer. Foi aí que eu entendi o que o Austin estava pensando no dia que ele saiu, e porque eu nunca achei que fosse pessoal. Quando Steve saiu, não era sobre trabalhar comigo. Era sobre qualquer coisa, menos isso.
Eu não queria sair por causa do Eddie Guerrero, ou Bob Holly, ou ninguém. Eu apenas tinha que sair. Eu tinha perdido minha fé, o que aconteceu porque eu não tinha família depois de estar 300 dias por ano na estrada, e tudo que eu tinha era a Federação. Como eu podia dar uma boa vida para minha filha se ela nunca tivesse a chance de me ver? E que dinheiro eu faria se eu estivesse sendo lentamente posto de lado? Eu estava finalmente pensando claro, ou eu pensava que sim.
Eu não sei porque eu fui ao meu avião na manhã seguinte e voei pra Savanna, mas eu fiz. Eu acho que foi Rena que me fez ir. “Vá para Savannah, arrume um encontro com Vince, cuide de seus negócios do jeito certo.” Eu amo aquela mulher. Quando eu apareci no prédio em Savannah, o produtor me disse que eu deveria lutar por nove minutos contra Bob Holly. Aí ferrou. Eu fui direto no Gerry Brisco e disse a ele “Você me recrutou, então eu quero que você saiba que eu estou vazando. Eu estou fora.” Eu também queria falar isso na cara do Vince.
Eu perdi o title pro Eddie Guerrero pra que a WWE pudesse atrair o mercado latino, e minha luta contra Goldberg na Wrestlemania seria tão grande que o title não era necessário para vendê-la? Eu deveria esmagar Bill Goldberg em 30 segundos na Wrestlemania, mas não conseguia passar pelo Bob Holly em 9 minutos?
Eu lembro de ver o Brisco procurando pelo Vince, e eu estava fervendo. Vince estava no ring com o Triple H, então eu apenas fui até ele e disse “Precisamos conversar.” Sem entender como eu estava sério, Vince me fez esperar alguns minutos. Eu só estava ficando cada vez mais bravo, então eu interrompi a conversa e disse a ele que a gente precisava sentar imediatamente. Nós fomos até o escritório dele e eu disse ao Vince que eu já era, “ia embora.” Eu não tinha desejo algum de lutar contra o Bob Holly na TV, não queria lutar naquela noite de jeito nenhum, e queria apenas ir embora. Vince disse “Bem, Brock, e o Wrestlemania? Você não pode me deixar nesses termos!”
Eu nunca esquecerei a próxima fala dele. “Você não pode fazer isso comigo.” Tudo que eu pensava era “FAZER ISSO COM VOCÊ?” Eu não sabia o que o Vince pensava que eu estava fazendo com ele, mas o que quer que estivesse acontecendo, era algo que eu não queria mais estar envolvido! Eu aceitei ficar até o WrestleMania, mas apenas porque eu queria aquele pagamento de minha luta contra Goldberg. Eu cortei alguns minutos de minha luta contra Bob Holly, lutei aquela noite, tomei um banho e me vesti, e fui de volta para meu avião. Rena foi para casa comigo aquele dia, e eu me sentia aliviado, eu estava deixando a companhia. Como sou burro, deixei o Vince me levar pro WrestleMania, mas se eu não aceitasse aquilo, eles provavelmente não me pagariam um monte de dinheiro que já me deviam. Então, financeiramente, foi uma decisão inteligente.
Eu sabia que o Vince estava bravo. No universo dele, eu era ingrato. Eu tinha virado as costas e cuspido na cara dele. Mas isso não era como se ele não tivesse visto isso chegar. Quantas vezes eu disse a ele que precisava de folga? Quantas vezes eu disse a ele que não estava feliz com a vida, ou com o que isso estava fazendo comigo? Vince sempre tinha sua resposta: “Brock, você é bem mais durão do que isso”.
Mas isso não era sobre ser durão. Era sobre ter uma vida. Um ano ou dois indo de cidade em cidade, bar em bar, garota em garota, Vicodin em Vicodin, não é uma vida. Eu amei estar no ring e lutar. Fazer as pessoas se levantarem, fazer pessoas odiarem meu personagem, entreter os fãs. Eu tive um ótimo tempo fazendo isso, especialmente quando eu ia trabalhar com pessoas que eu gostava. Mas eu queria ter uma família também, mas eu tinha certeza que não tinha como do jeito que eu trabalhava. Eu não odeio professional wrestling, e eu certamente não odeio as pessoas dentro disso. Vida na estrada simplesmente não é pra mim. Não é a vida que eu escolhi.
Quando chegou o tempo, eu fiz meu anúncio e disse a todos que eu estava deixando a WWE. Daquele dia em diante, eu me tornei o exilado. Nenhum dos caras queria ser visto comigo, porque eu era a maçã estragada. Eu tinha me voltado contra o wrestling, que era a vida deles. Eu estava partindo. Pulando do trem. Eles não entendiam isso, porque aquele trem era a única viagem que a maioria daqueles caras conheciam.
Eu não me importava, porque eu tinha feito minha escolha. Eu ainda andava como se o lugar fosse meu, porque não tinha ninguém ali que pudesse se comparar ao meu porte. Se eu quisesse disparar em qualquer um naquela locker room, não tinha nada que ninguém pudesse fazer. Eu podia ter estraçalhado cada um deles. Mas não era assim que era o negócio, então eu tentei ser legal sobre isso. Ser um profissional. Fazer meu trabalho. Ganhar meu cheque. Ser um provedor para minha família.
Minha filha, Mya, mudou minha vida. eu queria estar lá para ela, queria vê-la crescer. E a maioria desses caras, com suas múltiplas ex-esposas, e famílias quebradas em diferentes estados, perderam tudo que é realmente importante na vida. Eu não queria aquilo, e eu não queria aquilo para minha filha também. Ela merecia um pai de verdade.
Não me leve a mal. Um monte de coisas boas saíram do meu trabalho na WWE. Eu ganhei muito dinheiro, mesmo tendo passado um bom tempo tentando me livrar do meu contrato. Eu me tornei famoso, o que me ajudou quando eu quis uma chance na UFC. Eu aprendi sobre marketing. Mas a melhor coisa foi ter conhecido minha mulher. Ela me deu duas crianças saudáveis, e é perfeita com Mya. Quando eu digo que sou um cara abençoado por Deus, falo sério. Rena apoiou minha decisão de deixar a WWE, o que não era fácil pra ela, já que ela ainda estava com a empresa naquele tempo. Mas ela sabia que não dava pra mim continuar. Mas eu queria competir e voltar a ser um atleta. Eu pensei em talvez dar uma chance ao football. Mas, no meu desespero de deixar a WWE, eu cometi o erro da minha vida. Eu assinei um contrato de demissão que incluía uma cláusula que me proibia de competir.
Vince estava irritado comigo porque a gente tinha acabado de firmar um novo contrato em julho de 2003, e ele clamava que este era o melhor negócio que ele já tinha dado para um wrestler. Mas aí eu já não me importava com o dinheiro ou o contrato. Eu tinha dinheiro, e eu só queria acabar logo com Vince. Naquele tempo, eu não sabia que iria ter uma carreira no MMA, ou tentar entrar na UFC. Eu não tinha ideia se eu iria lutar no Japão. Eu pensei que iria pra NFL, mas não era o principal na mnha mente. Tudo que eu pensava era fugir do Vince e escapar do estilo de vida da WWE. Todo o resto era secundário.
Vince finalmente disse que me deixaria ir, mas ele queria que eu assinasse um contrato de demissão. Naquele tempo, eu pensei que seria uma boa ideia deixar meu advogado olhar o documento antes de eu assinar. Eu estava sentado num hotel em algum lugar quando eu fui demitido por Vince, e eu mandei via faz o documento para meu advogado em Minneapolis. Ele me ligou, disse que iria olhar e depois iria mandar de volta uma cópia marcada para discutirmos os pontos interessantes.
Mas eu fiquei impaciente. Eu queria sair. Eu não queria mais trabalhar com Vince e a WWE, e eu não me importava o que o contrato dizia. Então, antes mesmo do meu advogado ter a chance de comentar, eu assinei o contrato. Eu pensei que isso seria rápido e fácil, eu conseguiria meu pagamento na WrestleMania, e estaria fora do pro wrestling para sempre. Eu não poderia estar mais errado. O que eu não sabia, porque não esperei a resposta do meu advogado, era que o contrato tinha uma cláusula que dizia que eu não poderia aparecer para nenhuma promoção de wrestling, ultimate fighting ou sports entertainment em nenhum lugar do mundo até 2010.
Com uma deslizada da caneta, Eu me dei mal pra valer. Eu fui de não poder lutar na TNA por um ano (o que consta nos contratos normais), para não poder lutar ou fazer nada envolvido com “sports entertainment” no mundo inteiro por quase seis anos.
Eu tinha acabado de completar 27 anos. Se eu não lutasse contra essa cláusula, eu seria forçado a deixar de trabalhar até meus 33 anos… que é a minha idade agora enquanto escrevo esse livro. Tudo que eu tinha conseguido até aquela luta final no MSG contra Bill Goldberg nunca teria acontecido. Eu passaria o melhor momento da minha carreira sentado no banco.
Eu acho que a velha expressão “vivendo e aprendendo” se aplica aqui. Me custou muito dinheiro e quase um ano para lutar contra aquela cláusula. Mas isso está no passado e eu consegui minha liberdade. Eu tenho minha família. Eu amo minha família. Eu não fico pensando sobre isso. É passado. Aquela parte da minha vida acabou.
Eu não converso com muitos da companhia hoje em dia, e também foi assim durante minha passagem na WWE. Eu não gostava o quão desleais eram a maioria dos caras, mas eu pensei que existiam umas poucas pessoas com quem eu podia contar. Kurt Angle era para ser uma dessas pessoas. Então alguma coisa aconteceu e me fez duvidar.
Eu tive muitas conversas com o Kurt, mas eu logo descobri que aquelas conversas não permaneciam apenas entre a gente. É triste que eu tenha aprendido esta lição do jeito difícil. Eu sabia que a qualquer momento qualquer um na locker room podia me trair se pudesse se safar com isso. Todos eles querem um lugar melhor no card. Todo mundo quer fazer mais dinheiro, ter as melhores lutas e ganhar os maiores pushs. Não é segredo que quando se trata do negócio do pro-wrestling, você tem que vigiar suas costas o tempo inteiro. Todo mundo é posto numa posição para trair o cara que está na frente. Algumas vezes, eles querem ver se você estpa disposto a ser agressivo, porque Vince gosta de ver seus top guys lutando pela posição número um.
Kurt e eu devíamos ter uma ligação. Nós dois estivemos no topo no wrestling amador. Nós dois eramos atletas reais, verdadeiros competidores. Mas ao mesmo tempo, Kurt queria minha posição assim como todos na locker room. Ele apenas queria o que eu tinha. Vince nunca olhou para Kurt do jeito que olhava para mim. Kurt tinha a medalha olímpica, mas Vince e Triple H não viam um campeão olímpico. Eles apenas viam um cara de 1,80 m vestindo collant. Nas cabeças deles, os fãs pagam para ver os caras enormes lutarem. Kurt nunca seria “maior que a vida”. Não importava quão bom ele era no ring, Kurt apenas não era alto ou grande o bastante para ser o top guy do Vince McMahon por tempo algum.
Acreditando que eu podia confiar no Kurt, eu disse a ele que eu estava pensando em sair do wrestling. Eu não falei a mais ninguém, e ele disse que também não o faria. Mas logo depois de eu ter confiado nele, eu me convenci de que Vince sabia que eu planejava sair. Será que o Kurt havia me traído?
Naquele tempo, Kurt e eu estávamos viajando juntos, e eu já estava pensando que algo estava errado só pelo jeito que ele estava agindo. Então, um dia, eu fui devolver o carro alugado, e vi o celular do Kurt no acento ao lado. Eu o abri, e a última chamada tinha sido para Vince McMahon. Aquilo provava algo? talvez sim, talvez não. Mas daquele dia em diante, eu mantive minha boca fechada, e não disse nada ao Kurt que eu não queria que alguém soubesse.
Eu perdi o WWE Title para Eddie Guerrero no Cow Palace em Sam Francisco. Toda a storyline se centrava no fato de Goldberg entrar no ring e me dar um spear. Eu não acreditei que Vince queria o título com Eddie Guerrero porque ele pensava que ele atrairia tanto dinheiro quanto eu, ou que Vince tinha essa visão sobre mim vs. Goldberg na Wrestlemania. Eu suspeitei que Vince tomou essa decisão de me tirar o título porque Kurt o havia dito que eu estava pensando em sair.
Eu comecei em me concentrar em apenas ir ao WrestleMania e por minhas mãos naquele bom pagamento antes de ir embora. Vocês sabem que isso nunca aconteceu desse jeito, porque enquanto eu estava no modo de sobrevivência, a WWE fez outro movimento grotesco pra cima de mim.
Nós estávamos marcados para ir à África do Sul, e é uma viagem desgastante. É no outro lado do mundo. A comida é ruim. É uma viagem longa pra chegar, e uma viagem longa pra voltar. Não havia nada de bom nisso exceto que você fazia um bom dinheiro se estivesse no main event.
Eu estava marcado para lutar naqueles main events contra Kurt e Eddie em Triple Threat matches em todos os quatro shows da África do Sul, mas antes de nós deixarmos os Estados Unidos, a WWE mudou o main event para apenas Kurt vs Eddie. Me disseram que os dois precisavam ajustar-se para a luta do WrestleMania, o que significava que eu iria lutar contra Bob Holly, que eu tinha vencido em quantro minutos no Royal Rumble.
Eu gosto de Bob. Ele é um cara legal e ele leva o negócio a sério, mas eu não queria trabalhar com ele. Nada contra ele, mas lutar contra Bob Holly não me valeu nada naquele tempo. Nós fizemos nossa luta no Royal Rumble e aquele deveria ser o fim da nossa storyline. Mas agora eu tinha que viajar para África do Sul pra trabalhar contra o Bob Holly? Alguém pode me dizer porquê? Eu sabia que ninguém iria pagar pra ver aquela luta. Se eu não fosse realmente necessário, me dessem uma folga. Eu realmente precisava da folga naquele tempo, mas John Laurinaitis me disse o quanto precisava de mim no card. CONTRA O BOB HOLLY? Tá zoando com a minha cara?
Eu sabia a verdade. Eu estava apenas tapando buracos no card, Não era onde eu queria estar. Isso nunca foi o que eu queria ser. Até mesmo hoje, neste exato momento, ainda estou bravo comigo por ter ido pra África do Sul.
A viagem foi péssima, o dinheiro não valeu a pena naquele tempo, e pior, eu bebi durante toda a viagem de volta. Eu passei 54 horas miseráveis em uma avião naquela viagem. Quando aterrissamos no aeroporto JFK em New York, nós fomos enfiados como gado num ônibus para o aeroporto LaGuardia, onde nós iríamos pegar outro avião para Atlanta. Assim que chegássemos a Atlanta, nós deveríamos ir para Savannah. Assim que chegássemos, voltaríamos ao mesmo monótono trabalho árduo de sempre. Pegar a bagagem. Alugar um carro. Encontrar um ginásio. Ver algo pra comer. Torcer pra dormir um pouco, porque você tem que estar pronto na próxima manhã para passar seu dia inteiro gravando pra TV.
Foi aí que eu enlouqueci de vez. Nathan Jones tinha endoidado um mês atrás, e ele estava apenas alguns minutos de lutar em sua cidade natal na Austrália. Mas o estranho é que, quando o Nathan caiu fora, eu continuei pensando que tudo que ele dizia fazia sentido. “Nada vale a pena por esse stress”… “É tudo um jogo, mas aí eles te dizem quão a sério eles levam o próprio negócio”… “Eu apenas não quero mais estar aqui”. Então aterrissamos no JFK e tomamos o ônibus para LaGuardia, e foi aí que eu comecei a beber de novo. Eu estava sentado no bar do aeroporto e decidi ali mesmo que eu não entraria em outro avião para Savannah. Pra quê? Pra eu poder lutar contra o Bob Holly de novo? Eu não tinha ideia do que eles tinham pra mim nas gravações, e eu não ligava. Eu havia tido o bastante. Já era. Fim da linha. Eu ia pra casa.
Me levantei do bar, fui até o caixa, e comprei a minha própria passagem para Minneapolis. Quando eu entrei no avião para casa, eu pedi outro drink para celebrar, mas eles me negaram. Eu não estava feliz por terem me recusado álcool, e eu quase causei um barraco que podia ter ficado bem feio. Não foi muito esperto da minha parte, mas quando sua cabeça está cheia de porcaria…
Para minha sorte, eu não fui chutado do avião e consegui chegar em casa. Aqueles pobres empregados do avião. Eles podiam ter me ferrado, mas não o fizeram. Eu acho que essa é minha chance para dizer “me perdoem” de uma forma pública para eles, e obrigado por não terem feito um diz ruim ficar ainda pior.
Eu tinha em minha cabeça que não iria para as gravações em Savannah. Eu ia dar uma de Steve Austin. Eu estava em casa, e não ia embora de novo. Não pra estrada, sem chance disso acontecer. Foi aí que eu entendi o que o Austin estava pensando no dia que ele saiu, e porque eu nunca achei que fosse pessoal. Quando Steve saiu, não era sobre trabalhar comigo. Era sobre qualquer coisa, menos isso.
Eu não queria sair por causa do Eddie Guerrero, ou Bob Holly, ou ninguém. Eu apenas tinha que sair. Eu tinha perdido minha fé, o que aconteceu porque eu não tinha família depois de estar 300 dias por ano na estrada, e tudo que eu tinha era a Federação. Como eu podia dar uma boa vida para minha filha se ela nunca tivesse a chance de me ver? E que dinheiro eu faria se eu estivesse sendo lentamente posto de lado? Eu estava finalmente pensando claro, ou eu pensava que sim.
Eu não sei porque eu fui ao meu avião na manhã seguinte e voei pra Savanna, mas eu fiz. Eu acho que foi Rena que me fez ir. “Vá para Savannah, arrume um encontro com Vince, cuide de seus negócios do jeito certo.” Eu amo aquela mulher. Quando eu apareci no prédio em Savannah, o produtor me disse que eu deveria lutar por nove minutos contra Bob Holly. Aí ferrou. Eu fui direto no Gerry Brisco e disse a ele “Você me recrutou, então eu quero que você saiba que eu estou vazando. Eu estou fora.” Eu também queria falar isso na cara do Vince.
Eu perdi o title pro Eddie Guerrero pra que a WWE pudesse atrair o mercado latino, e minha luta contra Goldberg na Wrestlemania seria tão grande que o title não era necessário para vendê-la? Eu deveria esmagar Bill Goldberg em 30 segundos na Wrestlemania, mas não conseguia passar pelo Bob Holly em 9 minutos?
Eu lembro de ver o Brisco procurando pelo Vince, e eu estava fervendo. Vince estava no ring com o Triple H, então eu apenas fui até ele e disse “Precisamos conversar.” Sem entender como eu estava sério, Vince me fez esperar alguns minutos. Eu só estava ficando cada vez mais bravo, então eu interrompi a conversa e disse a ele que a gente precisava sentar imediatamente. Nós fomos até o escritório dele e eu disse ao Vince que eu já era, “ia embora.” Eu não tinha desejo algum de lutar contra o Bob Holly na TV, não queria lutar naquela noite de jeito nenhum, e queria apenas ir embora. Vince disse “Bem, Brock, e o Wrestlemania? Você não pode me deixar nesses termos!”
Eu nunca esquecerei a próxima fala dele. “Você não pode fazer isso comigo.” Tudo que eu pensava era “FAZER ISSO COM VOCÊ?” Eu não sabia o que o Vince pensava que eu estava fazendo com ele, mas o que quer que estivesse acontecendo, era algo que eu não queria mais estar envolvido! Eu aceitei ficar até o WrestleMania, mas apenas porque eu queria aquele pagamento de minha luta contra Goldberg. Eu cortei alguns minutos de minha luta contra Bob Holly, lutei aquela noite, tomei um banho e me vesti, e fui de volta para meu avião. Rena foi para casa comigo aquele dia, e eu me sentia aliviado, eu estava deixando a companhia. Como sou burro, deixei o Vince me levar pro WrestleMania, mas se eu não aceitasse aquilo, eles provavelmente não me pagariam um monte de dinheiro que já me deviam. Então, financeiramente, foi uma decisão inteligente.
Eu sabia que o Vince estava bravo. No universo dele, eu era ingrato. Eu tinha virado as costas e cuspido na cara dele. Mas isso não era como se ele não tivesse visto isso chegar. Quantas vezes eu disse a ele que precisava de folga? Quantas vezes eu disse a ele que não estava feliz com a vida, ou com o que isso estava fazendo comigo? Vince sempre tinha sua resposta: “Brock, você é bem mais durão do que isso”.
Mas isso não era sobre ser durão. Era sobre ter uma vida. Um ano ou dois indo de cidade em cidade, bar em bar, garota em garota, Vicodin em Vicodin, não é uma vida. Eu amei estar no ring e lutar. Fazer as pessoas se levantarem, fazer pessoas odiarem meu personagem, entreter os fãs. Eu tive um ótimo tempo fazendo isso, especialmente quando eu ia trabalhar com pessoas que eu gostava. Mas eu queria ter uma família também, mas eu tinha certeza que não tinha como do jeito que eu trabalhava. Eu não odeio professional wrestling, e eu certamente não odeio as pessoas dentro disso. Vida na estrada simplesmente não é pra mim. Não é a vida que eu escolhi.
Quando chegou o tempo, eu fiz meu anúncio e disse a todos que eu estava deixando a WWE. Daquele dia em diante, eu me tornei o exilado. Nenhum dos caras queria ser visto comigo, porque eu era a maçã estragada. Eu tinha me voltado contra o wrestling, que era a vida deles. Eu estava partindo. Pulando do trem. Eles não entendiam isso, porque aquele trem era a única viagem que a maioria daqueles caras conheciam.
Eu não me importava, porque eu tinha feito minha escolha. Eu ainda andava como se o lugar fosse meu, porque não tinha ninguém ali que pudesse se comparar ao meu porte. Se eu quisesse disparar em qualquer um naquela locker room, não tinha nada que ninguém pudesse fazer. Eu podia ter estraçalhado cada um deles. Mas não era assim que era o negócio, então eu tentei ser legal sobre isso. Ser um profissional. Fazer meu trabalho. Ganhar meu cheque. Ser um provedor para minha família.
Minha filha, Mya, mudou minha vida. eu queria estar lá para ela, queria vê-la crescer. E a maioria desses caras, com suas múltiplas ex-esposas, e famílias quebradas em diferentes estados, perderam tudo que é realmente importante na vida. Eu não queria aquilo, e eu não queria aquilo para minha filha também. Ela merecia um pai de verdade.
Não me leve a mal. Um monte de coisas boas saíram do meu trabalho na WWE. Eu ganhei muito dinheiro, mesmo tendo passado um bom tempo tentando me livrar do meu contrato. Eu me tornei famoso, o que me ajudou quando eu quis uma chance na UFC. Eu aprendi sobre marketing. Mas a melhor coisa foi ter conhecido minha mulher. Ela me deu duas crianças saudáveis, e é perfeita com Mya. Quando eu digo que sou um cara abençoado por Deus, falo sério. Rena apoiou minha decisão de deixar a WWE, o que não era fácil pra ela, já que ela ainda estava com a empresa naquele tempo. Mas ela sabia que não dava pra mim continuar. Mas eu queria competir e voltar a ser um atleta. Eu pensei em talvez dar uma chance ao football. Mas, no meu desespero de deixar a WWE, eu cometi o erro da minha vida. Eu assinei um contrato de demissão que incluía uma cláusula que me proibia de competir.
Vince estava irritado comigo porque a gente tinha acabado de firmar um novo contrato em julho de 2003, e ele clamava que este era o melhor negócio que ele já tinha dado para um wrestler. Mas aí eu já não me importava com o dinheiro ou o contrato. Eu tinha dinheiro, e eu só queria acabar logo com Vince. Naquele tempo, eu não sabia que iria ter uma carreira no MMA, ou tentar entrar na UFC. Eu não tinha ideia se eu iria lutar no Japão. Eu pensei que iria pra NFL, mas não era o principal na mnha mente. Tudo que eu pensava era fugir do Vince e escapar do estilo de vida da WWE. Todo o resto era secundário.
Vince finalmente disse que me deixaria ir, mas ele queria que eu assinasse um contrato de demissão. Naquele tempo, eu pensei que seria uma boa ideia deixar meu advogado olhar o documento antes de eu assinar. Eu estava sentado num hotel em algum lugar quando eu fui demitido por Vince, e eu mandei via faz o documento para meu advogado em Minneapolis. Ele me ligou, disse que iria olhar e depois iria mandar de volta uma cópia marcada para discutirmos os pontos interessantes.
Mas eu fiquei impaciente. Eu queria sair. Eu não queria mais trabalhar com Vince e a WWE, e eu não me importava o que o contrato dizia. Então, antes mesmo do meu advogado ter a chance de comentar, eu assinei o contrato. Eu pensei que isso seria rápido e fácil, eu conseguiria meu pagamento na WrestleMania, e estaria fora do pro wrestling para sempre. Eu não poderia estar mais errado. O que eu não sabia, porque não esperei a resposta do meu advogado, era que o contrato tinha uma cláusula que dizia que eu não poderia aparecer para nenhuma promoção de wrestling, ultimate fighting ou sports entertainment em nenhum lugar do mundo até 2010.
Com uma deslizada da caneta, Eu me dei mal pra valer. Eu fui de não poder lutar na TNA por um ano (o que consta nos contratos normais), para não poder lutar ou fazer nada envolvido com “sports entertainment” no mundo inteiro por quase seis anos.
Eu tinha acabado de completar 27 anos. Se eu não lutasse contra essa cláusula, eu seria forçado a deixar de trabalhar até meus 33 anos… que é a minha idade agora enquanto escrevo esse livro. Tudo que eu tinha conseguido até aquela luta final no MSG contra Bill Goldberg nunca teria acontecido. Eu passaria o melhor momento da minha carreira sentado no banco.
Eu acho que a velha expressão “vivendo e aprendendo” se aplica aqui. Me custou muito dinheiro e quase um ano para lutar contra aquela cláusula. Mas isso está no passado e eu consegui minha liberdade. Eu tenho minha família. Eu amo minha família. Eu não fico pensando sobre isso. É passado. Aquela parte da minha vida acabou.
Fonte: WWE Brasil